Às vezes, as despedidas não vêm do jeito que a gente imagina.
A gente espera reconciliação, um último toque, uma palavra que feche o ciclo… mas a vida, com seu jeito misterioso, nem sempre entrega isso.
Uma mulher partiu, carregando uma dor que talvez ninguém soubesse medir.
E no momento final, quando muitos se reconciliam, ela escolheu o silêncio.
Escolheu a distância.
E isso machuca — não só quem fica, mas também quem observa.
Mas existe algo importante nisso tudo:
o perdão, mesmo quando não é visível, não deixa de ser um processo. Nem sempre ele acontece diante dos nossos olhos. Às vezes, quem parte não consegue liberar aquilo que a vida inteira pesou.
Não porque não queira, mas porque simplesmente não alcançou forças para isso.
E quem fica… fica com perguntas.
Com um vazio que parece dizer: “não deu tempo”.
Só que a verdade é que cada um encerra sua caminhada do jeito que consegue.
A ausência dela naquele último instante não define toda a história que viveram.
Não invalida os afetos que existiram.
E nem é prova absoluta de que não havia perdão — apenas mostra que ela lutava com dores que talvez nunca tenha conseguido nomear.
A partida dela deixa uma lição quase sussurrada:
as mágoas que guardamos pesam mais na hora do adeus do que nos dias comuns.
E isso nos chama — nós que ainda estamos aqui — a resolver o que precisa ser resolvido enquanto o tempo ainda está nas nossas mãos.
Que essa história, tão dura e humana, sirva não como uma ferida que insiste em doer,
mas como um lembrete suave e profundo:
a vida é breve demais para levar pedras no bolso.
E longa o suficiente para escolher, todos os dias, um pouco mais de leveza.
Mary Marques




