Vivemos tempos em que o amor acontece diante de câmeras e termina em notas de esclarecimento no Instagram. Casais influenciadores, que antes compartilhavam sorrisos ensaiados, viagens perfeitas e declarações embaladas por trilhas sonoras emocionantes, agora anunciam o fim com textos padronizados e hashtags de superação.
E o público? Ah, o público... se divide entre o tribunal e a arquibancada. Tem quem julgue: "sabia que não ia durar", como se o amor tivesse que se sustentar apenas pelos olhos dos seguidores. Tem quem idolatre: "vocês eram meu casal favorito", como se o relacionamento fosse uma série cancelada antes do final feliz. E tem os que especulam, investigam, comentam como peritos emocionais sem diploma: "ela parecia mais investida", "ele já estava estranho".
Mas ninguém pergunta: como estão eles de verdade?
É curioso — e triste — como nos tornamos espectadores do fim de algo que só os dois sabiam como era de verdade. Porque no fim das contas, por trás dos filtros, dos reels sincronizados e dos presentes de Dia dos Namorados patrocinados, havia duas pessoas tentando amar sob os holofotes. E amar sob pressão já é difícil. Amar sendo observado o tempo todo? Quase impossível.
As redes sociais transformaram a intimidade em conteúdo, e com isso, criamos uma cultura que romantiza o começo e escarnece do fim. Como se o término fosse um fracasso, e não uma escolha humana, às vezes até corajosa. Como se fosse obrigatório ser eterno pra ser verdadeiro.
A verdade, que quase ninguém quer ouvir, é que amor não é entretenimento. E que a dor da perda não diminui só porque veio com muitos likes. Pelo contrário: ela vira pauta. E isso, por si só, já é cruel.
Talvez o que a gente precise — como público, como criadores, como pessoas — é reaprender a respeitar o silêncio. Entender que nem tudo precisa de explicação pública. Que nem todo coração partido deve virar tendência. Que às vezes, o melhor que podemos fazer é não comentar. Só sentir empatia. E seguir.
Mary Marques
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